26 de novembro de 2014

POSTAR PARA COMANDAR


 
Há dez anos, entre 8 mil a 17 mil blogs eram criados por dia no mundo, segundo reportagem divulgada pelo jornal da Folha de S. Paulo. É certo que esse número aumentou muito nos últimos anos. São aproximadamente 38 milhões de resultados encontrados no mecanismo de pesquisa Google, usando a expressão “blogs de moda”. Você acha pouco? Com a explosão da internet, os blogs começaram a ganhar espaço como veículos de comunicação. Mais ainda: tornaram-se poderosas ferramentas de disseminar tendências de moda.
Para qualquer mulher, ficar “antenada” no mundo da moda se resumia em ler revistas e assistir a programas na TV desse segmento. Atualmente, esse processo é bem mais prático e de fácil acesso. Com apenas alguns cliques, você pode ficar conectado a diversos blogs de moda, que trazem informações das últimas tendências da estação, além de dicas alternativas para as leitoras. O diferencial desses blogs em relação a outros meios de comunicação é a maneira como a blogueira estabelece o relacionamento com as seguidoras.   
O poder delas sobre a legião de seguidoras começa desde pensar um nome criativo para o blog e elaborar um layout bacana. São etapas fundamentais no processo de criação pelo qual a blogueira tem de passar. Depois, produzir postagens diárias e com bom conteúdo – que inclui ter pautas diferenciadas, produzir e editar fotos – tarefas realizadas todos os dias. Além disso, a blogueira tem de checar e responder os e-mails, cuidar das redes sociais, analisar propostas de parcerias e, se ainda for guru do Youtube – nomenclatura usada para pessoas que alcançaram fama postando vídeos na internet –, produzir e editar vídeos, uma ou mais vezes por semana, também faz parte da rotina.  
O poder dos blogs de moda vai além da mera comunicação, porque também ajudam a melhorar a auto-estima. Para Andreza Goulart, 32, existe uma relação forte entre os blogs de moda e a auto-estima feminina. Blogueira há cinco anos, ela conta que já até salvou casamento de leitora.  “Recebo tantas histórias lindas de mulheres que resgataram a auto-estima, que saíram da depressão. Eu tento sempre estar melhor a cada dia, afinal, é isso que as leitoras esperam de mim. Vira um ciclo de auto-estima.”
Com aproximadamente 150 mil inscritos no Youtube, 125 mil seguidores no Facebook, 93 mil no Instagram, 35 mil no Twitter e cerca de 500 mil visualizações mensais no blog, Andreza Goulart diz acreditar que houve uma valorização dos blogs como veículos de comunicação e que, atualmente, as empresas veem as blogueiras como a voz da consumidora. Se a blogueira não gostou de determinado produto ou se sugeriu algumas melhorias, essas impressões serão adotadas pelos consumidores finais. A opinião é tão poderosa que um mero produto pode virar “top” em consumo só pelo fato de ter sido aprovado por uma blogueira. Para Andreza Goulart, o poder de influência dos blogs ocorre no momento em que há proximidade das pessoas que acompanham o site com a blogueira. “Com o passar do tempo e a leitura diária, cria-se um laço de afinidade.”
Segundo a jornalista e blogueira paranaense Érika Okazaki, 29, a internet é o futuro e os blogs estão nele. “Agora, precisam de lapidações e estratégias para esse futuro. Temos que estar sempre em mutação, como a moda, é tudo muito rápido.”  
Érika também é apresentadora do Programa Na Moda exibido na RICTV Record aos ? e conta que se considera uma “semi-blogueira”, pois o blog é uma extensão do programa que apresenta, mas, que com o tempo, o site virou uma “espécie de site/blog”, seguindo tendência de mercado. Para ela, as blogueiras são formadoras de opinião. “É incrível o poder que elas têm sobre as leitoras. Quase uma regra de existência. Um fenômeno até inexplicável para alguns.” Érika diz acreditar que, por isso, as empresas vêm valorizando cada vez mais os blogs de moda, porque já estão olhando para o futuro e traçando estratégias, que incluem essas “personalidades da internet” em suas campanhas para ganhar força na mídia.
De acordo com a psicóloga Darla Lopes, especializada em psicoterapia cognitivo-comportamental, estamos vivendo na era da conectividade e, por isso, esse processo das leitoras se identificarem cada dia mais com as blogueiras vai continuar acontecendo com o avanço da internet. Segundo Darla, o ser humano necessita de aprovação e quando uma blogueira observa que está sendo aceita, ela irá retribuir de forma carinhosa. Por sua vez, a leitora também se sente valorizada. “Essa relação se torna um ciclo, que em alguns casos tornam-se amizades reais e em outros, amizades virtuais.” Darla explica que na psicologia esse processo é chamado de reforço positivo, no qual um comportamento é reforçado com uma resposta positiva. Logo, a tendência é se repetir e se instalar.  
Para a blogueira e empresária maringaense Ana Paula Callefi, 26, a principal característica que o blog deve ter para se tornar influente é apresentar veracidade e autenticidade das informações. “A blogueira nunca deve escrever sobre o que não usou ou indicar produtos/serviços que vão decepcionar as leitoras.” Ana conta que também é importante gerar bastante conteúdo próprio, o que acaba sendo mais trabalhoso, porém, será sempre exclusivo.  
Babye Munhoz, dona do blog Cena Fashion, diz acreditar que as leitoras se identificam com os blogs, justamente pelas blogueiras serem pessoas comuns. “Você não precisa ser uma modelo ou uma estrela para ser fashion. Qualquer pessoa pode usar as tendências de moda.” Babye ressalta que uma das suas maiores preocupações é levar informações de moda para todas as mulheres, com biótipos, renda e idades diferentes. “Também foco em valorizar a moda (marcas) e os talentos da nossa região.” Babye ressalta que esse “poder” todo dos blogs de moda lhe assusta um pouco, pois podem ser vistos por pessoas do mundo todo e deixa a blogueira muito exposta. “Há elogios e há críticas, mas sempre peço para ‘me seguir’ quem se identifica com o Cena Fashion.” Ela explica que  tem muitos blogs espalhados pela internet e a leitora é livre para escolher com qual se identifica mais.  
A maquiadora Kézia Natália de Oliveira, 18, acompanha blogs de moda há aproximadamente dois anos e garante que visita os blogs preferidos sempre que recebe um e-mail informando, que o blog foi atualizado. Quando questionada se prefere ler uma revista ou um blog de moda, Kézia explica que opta pelos blogs porque acredita que as informações são mais completas. “Além de ser mais fácil conseguir informação gratuitamente e de forma rápida.”


Amanda Zulai

Nenhum comentário:

Postar um comentário