Você já ouvir falar em Girl Power? O movimento que virou ícone com milhares de seguidoras, tem origem nos Estados Unidos. Para a surpresa de muitos, o grupo não foi idealizado por celebridades, nem tão pouco por empresárias conhecidas, e sim, por uma garota de 15 anos. Ariel Fox, não esperava ser líder do primeiro movimento americano sobre a valorização das garotas. Pela ótica de Ariel, as meninas, principalmente na adolescência, se deparam com problemas de autoestima e sentimento de inferioridade. Tudo isso, por causa de um modelo social que cobra das meninas, um comportamento de "doçura".
O conselho de Ariel para as meninas é: unam-se, tenham atitude, aprendam a confiar mais umas nas outras e parem de ridicularizar as garotas que não se encaixam no modelo machista de bonitinha, sexy e charmosa. A menina, que hoje tem 31 anos, é dona da marca Stickers Sisters, que comercializa broches, adesivos, cordões de tênis e ímãs . Junto com esses produtos estão mensagens de autoestima para as mulheres. O movimento se alastrou por todos Estados americanos e também em nove países: Canada, Chile, Singapura, Japão, Suíça, Paquistão, Itália, Inglaterra e Austrália.
O Girl Power vai muito além de queimar o sutiã. Mostra para a sociedade que as mulheres têm autonomia para serem quem quiserem e que não aceitam ser “rotuladas” com o modelo perfeito que a mídia prega.
Em Maringá, um dos grupos feministas que mais se aproxima da ideologia do Girl Power e que chama atenção é o “Coletivo Maria Lacerda de Moura” , fundado em 2012 , após a primeira edição da Marcha das Vadias na cidade.
Há dois anos, a estudante de Comunicação e Multimeios Camille Balestieri,20, adotou o feminismo na sua vida. Atualmente, é militante do Coletivo Feminista Maria Lacerda de Moura e representante das mulheres lesbianas no Conselho da Mulher de Maringá. “Vimos após a ‘Marcha das Vadias’, que tínhamos vontade e necessidade de continuar a construir esse movimento feminista na cidade, então resolvemos formar o Coletivo Maria Lacerda.
Analisamos o respeito de nossa condição na sociedade, enquanto mulheres, discutimos pautas, principalmente relacionadas com as violências provenientes do machismo e como acabar com as mesmas por meio da nossa ação direta e pela adoção de políticas públicas adequadas.”
O coletivo quer aprofundar as questões teóricas e práticas sobre o feminismo. Para Camille, o feminismo é mais do que se reunir para discutir as opressões contra as mulheres, e sim as violências simbólicas que elas sofrem todos os dias. Ela garante que militância começou dentro da própria casa. “Quer um exemplo pessoal? Eu tenho um irmão mais novo, temos menos de um ano de diferença de idade, nunca consegui entender a razão pela qual os brinquedos dele sempre foram melhores do que os meus – eu não gostava dos meus jogos de pratos de plástico, a bateria que meu irmão havia ganhado de natal parecia muito mais legal, assim como seus carrinhos de controle remoto. Quando crescemos começaram as divisões de tarefas no lar e a maior parte do trabalho sempre foi a minha. No almoço de domingo quem tinha que ficar ajudando minha avó com a limpeza sempre fomos eu e minhas primas.”
A Secretária da Mulher de Maringá, Gaetana Caporusso, diz acreditar que o machismo é herança eu está impregnada tanto em homens, quanto em mulheres, e que na sociedade moderna não cabe mais essa estrutura patriarcal. “Ninguém nasce violento. A sociedade faz com que as pessoas sejam violentas,” diz.
Para a secretária, ao longo desses anos, as mulheres têm conquistado posições sociais que antes era impossível. “Hoje temos uma presidente, mulheres que estão à frente de direções de escolas, clubes, mas infelizmente mesmo ocupando ‘cargos de destaque’, ainda existem certos privilégios para os homens. Só o tempo e a ação conjunta de todos os setores da sociedade em trabalhar e querer mudar essa situação, é que vão levar a um caminho favorável à igualdade de direitos.”
De acordo com a ONU ( Organização das Nações Unidas), até o mês de fevereiro deste ano, no mundo, 129 milhões de mulheres foram mutiladas. Por isso, não sentem prazer durante a relação sexual. A pesquisa mostrou também que em países como a Somália, Guiné-Bissau, Djibuti e Egito, mais de 90% das meninas são circuncisadas (A circuncisão feminina é uma operação que amputa o clitóris da mulher, para que ela não sinta prazer na relação sexual. Não há fundamentos religiosos para essa operação, é apenas uma forma de controlar as mulheres e torná-las dependentes dos homens). Nessas culturas, altamente machistas e patriarcais, a virgindade e a fidelidade matrimonial são valorizadas, e a pressão é intensa para controlar o comportamento sexual feminino.
A professora- doutora e escritora Patrícia Lessa, 43, que é mestre em estudos feministas, adotou o feminismo como estilo de vida, desde o período da escola, quando tomou consciência que ser mulher significa ter mais trabalho não remunerado e menos oportunidades que os homens. “Fiz um doutorado em Estudos Feministas na UnB, ministrei disciplinas no Mestrado/Doutorado e fiz, mais recentemente, um pós-doutorado onde discuto a ruptura com o binarismo social [divisão do mundo em macho-fêmea, homem-mulher, sensível-viril... etc]. Essa divisão reproduz o lugar de inferioridade dado às mulheres e ficcionalmente inventado para manter a hierarquização das relações humanas”, diz.
Patrícia, que também é membro do “ Coletivo Maria de Lacerda”, explica que a forma de organização não é hierarquizada. “Cada uma faz o que pode e todas fazem um pouco, do tipo “ mexeu com uma, mexeu com todas”.
A escritora vê Maringá como uma cidade bastante conservadora. A s políticas públicas estão longe de contemplar as necessidades das mulheres, principalmente das camadas mais pobres. “Aqui no Brasil, onde a educação ainda é precária, pobre e não é central nas políticas públicas ainda vemos uma linguagem bastante sexista e discriminatória, inclusive racista. Usa-se, ainda, o termo homem como sinônimo de humanidade, o que não é ingênuo e nem mesmo "padronizado", pois hoje sabemos que a linguagem é dinâmica, deve seguir a lógica de quem a opera, portanto, no nosso caso nacional, é machista e racista”, diz. No Brasil, o poder das mulheres vêm evoluindo. Exemplo disso, é a “ Marcha das Vadias” , que tornou-se ícone nacional. O movimento tem origem internacional e começou no Canadá, na cidade de Toronto, em resposta ao comentário de um policial que disse que, para diminuir o número de estupros, as mulheres deveriam parar de se vestir como “sluts” (vadias, em português). Assim, 3 mil mulheres canadenses foram às ruas para protestar contra o discurso e qualquer outro tipo de violência.
A estudante Camille Balestieri também é líder da “ Marcha das Vadias” em Maringá. “Com uma grande equipe colaboradora interessada no fim da violência de gênero, nossa marcha aconteceu em 10 de junho de 2012. Marchamos em Maringá em um domingo de sol com direito a alvará da Polícia Militar, prefeitura, acompanhamento da Setran(secretaria de trânsito e segurança) , trio elétrico, intervenção artística, apresentações musicais, muito batom vermelho, palavras de ordem feministas e alguns discursos inflamados.”
A feminista aponta entre os problemas a ainda serem superados, a falta de capacitação de alguns órgãos de atendimento às mulheres.
“Em Maringá existe a questão de desinformação a respeito da localização da Delegacia da Mulher – você sabe onde ela fica? Nem eu sabia até pouco tempo. É preciso publicitar essa questão.”
Nádia Viviane
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